Arrumei as malas e suspirei fundo, abrindo a porta de casa. Com um sorriso no rosto, abanei para o lugar que um dia fora somente meu. Para a cidade, um dia, que fora somente minha. Estava preparada para uma nova vida, para mudanças e experiências nunca vividas antes. Não, eu não precisava largar tudo, mas de um modo, eu queria. Conhecer novas pessoas e novas paixões eram uma das minhas metas para o próximo ano, que logo chegaria. Eu não queria mais chorar, não queria mais viver uma vida amargurada. Chega de fazer planos. Era hora de agir. Apenas pensar e sonhar tanto com o que eu queria não passariam de meros planos, mas agir para eles acontecerem seria o meu novo objetivo.
Esquece-los? Sim, esquece-los. Todos aqueles que um dia tinham me feito mal, todos aqueles de paixões não correspondidas, eu não viveria mais para eles. Viveria para mim mesma. Dizem que superar os fantasmas do passado é essencial para seguir o futuro, mas ignorá-los não é tão fácil quanto parece. As cicatrizes de um amor sempre permanecem no coração, mesmo que pareçam tão fáceis de sumir. Nunca é. Mas pelo menos uma vez na vida temos que tentar mudar o nosso próprio jogo. Suspirar fundo e seguir em frente de uma vez por todas. Não deixar mais rastros.
— Você quer mesmo ir embora? — Os meus amigos me perguntaram, dando um abraço enquanto chegava no aeroporto. Podia ver em seus olhos a súplica para ficar. Eu os amava, mas simplesmente tinha que seguir em frente.
— Eu tenho que fazer isso. Não é por ninguém, é por mim mesma. — Respondi.
Suas expressões se tornaram de saudade. De sentimentos misturados à nostalgia.
— Faça isso por você mesma se acha que é certo. — Seu sorriso me incentivou a continuar.
— Eu não quero deixar o passado para trás. Eu apenas quero seguir uma vida nova. Não quero viver o que já passou. — Dito isso, segui em frente, me preparando para enfrentar em vôo.
A paisagem parecia muito melhor do alto da vida. Eu pagaria um preço por minhas atitudes e por minha vontade de mudar, mas afinal, quem não pagava preços por qualquer atitude ou reação que viesse à ter da vida? Eu tive uma, e nenhum desafio ou obstáculo me faria parar de persistir o sonho de alcançar tudo o que eu queria. De respirar tranqüila pela primeira vez em meses. De só viver.
Paixões? Elas me marcaram, mas quem disse que eu não poderia viver sem elas? Nenhum deles pode achar em qualquer segundo que minha felicidade deve à seus rostos. Eu dei meu coração, mas no dia seguinte, eles o traíram. Se despedaçou em muitos pedaços, mas agora isso não ia acontecer - nunca mais - e novas atitudes estavam por vir.
O celular tocou no bolso de trás do meu jeans. A mensagem apareceu: "Sempre lembraremos de você. Siga em frente." Eu dei um sorriso calmo enquanto me preparava para novas oportunidades. Porque em todos os anos que se passariam, em todos os Dezembros, eu me tornaria uma nova pessoa.
— Posso sentar ao seu lado? — Um garoto, da mesma idade que eu, exatamente um dezenove anos, me perguntou com uma curiosidade nos olhos verdes. Eu assenti com a cabeça.
— Mas é claro. — Respondi, enquanto olhava pela janela.
Talvez a minha vida nova já estaria começando.
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